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Carta à Minha Filha, Maya Angelou

17 fevereiro 2013

 Dedicado à filha que nunca teve, Carta À Minha Filha mostra o percurso de Maya Angelou até alcançar uma vida boa e com sentido. Escrito no seu estilo inimitável, este livro está acima de qualquer género ou categoria: é ao mesmo tempo um livro de pequenas histórias, um livro de memórias, mas também um livro de poesia - e é um prazer absoluto.

Em pequenos e fascinantes textos, Maya Angelou permite-nos vislumbrar alguns aspectos da vida tumultuosa que a levou à posição cimeira que ocupa nas letras americanas e lhe ensinou lições de solidariedade e de força: a sua educação por uma avó insubmissa no ambiente de segregação racial do Arkansas, a sua vida a partir dos treze anos com a mãe, uma pessoa muito mais mundana e menos religiosa, até se transformar numa adolescente meio desajeitada, cuja primeira experiência de sexo sem amor a deixou, paradoxalmente, com a sua maior dádiva, um filho.

Maya Angelou escreve do coração para milhões de mulheres que considera fazerem parte da sua família. Como sempre acontece com as suas obras, Carta À Minha Filha é um livro que encanta e ensina. É um livro para estimar, saborear, ler várias vezes e partilhar.
A sinopse diz tudo, ou quase tudo, sobre este pequeno livrinho que me proporcionou algumas horas de uma leitura serena e tranquila, embalada pela voz da autora, como se Maya Angelou estivesse mesmo ali, a falar-me da sua vida e das pequenas grandes lições que foi aprendendo ao longo de vários episódios e que quer partilhar com todas as suas "filhas".
Trata-se não só de uma história de vida, mas também de um pequeno livro de instruções para a vida. Pequenos textos escritos de uma forma intimista e sem floreados, mas com candura e algum humor, que transmitem bem a voz e as vivências da autora e que permanecem muito além da última página...

"A minha alma irá sempre olhar para trás e admirar-se com as montanhas que subi, os rios que atravessei e os desafios que ainda tenho pela frente. Fico mais forte por saber isso. (...)
Sou uma ave enorme que sobrevoa altas montanhas e vales serenos. Sou uma sucessão de ondas num mar de prata. Sou uma pequena folha surgida na Primavera, trémula pelo entusiasmo de saber que vai crescer em toda a sua plenitude. (...)" 
 

Força de Vontade, James Patterson

21 junho 2011

Páginas: 246
Categoria: Testemunhos
"A luta verídica de uma família contra um mistério clínico agonizante.
Uma história de triunfo contra todas as expectativas.
Um relato poderoso sobre o poder do amor e da determinação.

Uma manhã, quando tinha quase cinco anos, Cory Friedman acordou a sentir uma vontade incontrolável de abanar a cabeça. A partir desse dia, a sua vida transformou-se numa agonia de tiques irrefreáveis e involuntários. Cory embarcou então numa odisseia que se prolongou por treze anos, de tratamento em tratamento, à procura de uma luz ao fundo do túnel.
Cory, a quem foi diagnosticado a síndrome de Tourette, viveu longos anos sob um regime médico duro e em permanente mutação que o deixou a sentir-se como uma verdadeira cobaia. Rapidamente passou a ser a ser difícil distinguir os tiques sintomáticos da sua doença dos que eram efeitos secundários das inúmeras combinações de medicamentos a que foi sujeito ao longo da sua penosa caminhada pela infância e adolescência. A única certeza de Cory era a de que continuava a piorar. Mas com o amor da sua família e o apoio de alguns professores e profissionais dedicados, Cory lutou pela sua vida e alcançou feitos incríveis em que poucos apostavam.
Força de Vontade é a história verídica e emotiva da batalha de Cory pela sobrevivência, contra as maiores adversidades. Escrito por James Patterson e pelo pai de Cory, Hal Friedman, com o ritmo absorvente de um thriller, é o relato comovente da coragem, determinação e triunfo final de uma família a braços com uma situação desesperante."
Já li este livro há umas boas semanas, mas ainda não tinha tido oportunidade de escrever nada sobre ele. Sou fã do autor James Patterson e bastou o nome dele para me chamar a atenção para esta obra. No entanto, não se trata de ficção, de thriller ou sequer de romance, trata-se da história verídica de um rapazinho (e da família) que teve de aprender a crescer com Síndrome de Tourette.


Sem ser lamechas, antes pelo contrário, sendo por vezes cru e muito realista, é de facto um relato impressionante e por vezes comovente. Acompanhamos a luta de um passo à frente e dois atrás de Cory e da família, torcemos por ele, sofremos com as desilusões, mas nunca perdemos a esperança, tal como eles não perderam. E a voz de Cory vai-nos conduzindo ao longo do túnel com firmeza e uma determinação fora de série.


Uma história de vida sóbria, bem escrita e muito recomendável para quem aprecia este género de livros.

Almas Gémeas, Alan e Irene Brogan

17 janeiro 2011

Editora: Asa
Páginas: 256
Categoria: Memórias/Testemunhos

"
Alan e Irene conheceram-se num orfanato, nos anos 50. Ele tinha sete anos, ela tinha nove. Eram ambos sensíveis e solitários. Naquele meio hostil, tornaram-se inseparáveis. Mas a proximidade entre meninos e meninas não era bem vista e, embora se desdobrassem em cuidados e peripécias, o inevitável aconteceu: a inocente amizade foi descoberta. Alan foi levado para outro orfanato sem ter, sequer, direito a um adeus.
Os anos passaram mas o laço entre eles nunca foi quebrado. Nas suas vidas - frequentemente difíceis, sempre solitárias - sabiam faltar algo. Sem saberem, frequentaram durante anos as mesmas lojas, o mesmo bairro… Até que, um dia, quarenta anos depois, Irene e Alan cruzaram-se casualmente na rua. Ambos souberam de imediato que nada nem ninguém voltaria a separá-los.
Relato doloroso de abandono, crueldade e sobrevivência, Almas Gémeas é, acima de tudo, uma história espantosa que confirma uma verdade fundamental: o amor consegue vencer todos os obstáculos."

Uma excelente leitura para começar o ano, uma história real com sofrimento, muita luta, mas acima de tudo com esperança nos insondáveis caminhos da vida e do amor.

Alan e Irene contaram-me a sua história, a duas vozes, serenamente, mas de uma forma que me prendeu. Gosto de histórias reais, contadas sem rodeios ou lamechices, mas de coração aberto com a serenidade de quem olha para trás e vê que o caminho, apesar de duro, tinha de ser percorrido. E a história destes dois meninos começa quando se cruzam no pior momento das suas vidas e vêem um no outro a "luz ao fundo do túnel", uma réstea de esperança de que a vida afinal não é tão má assim e apesar dos percalços, das dificuldades, do tempo, essa luz brilhou sempre e acabou por reconduzi-los um ao outro.

É uma história de encontro, desencontro e reencontro de duas almas que, quando sós e desamparadas, tiveram a bênção de se cruzarem e de se reconhecerem uma na outra. A história de um amor que perdurou e lutou apesar de todos os obstáculos. A história de duas almas gémeas que estavam destinadas a ficarem juntas e conseguiram-no. Uma história bela, comovente e que transmite, acima de tudo, muita esperança.

O Lobo de Wall Street, Jordan Belfort

22 setembro 2010

Editora: Editorial Presença
Páginas: 632
Categoria: Memórias, Testemunhos
excerto

"Esta é a autobiografia de Jordan Belfort, o então jovem corretor de Wall Street que nos anos 90 se sobrepôs à lógica da economia, manipulou o mercado bolsista e ganhou uma fortuna incalculável. Uma história verídica e fulgurante, escrita num registo confessional a que não é alheio um apurado sentido de humor, onde Belford relata ao pormenor a sua ascensão prodigiosa e queda inevitável. Como fundador e director da Stratton Oakmont, uma firma de investimentos de grande notoriedade, ganhou largas dezenas de milhões de dólares, mas o seu estilo de vida absolutamente megalómano - onde não faltavam os iates, os jactos, as voltas ao mundo, as mulheres, as drogas - levava-o a gastar à noite os milhares que ganhava de dia. Chamavam-lhe «O Lobo de Wall Street», e a própria máfia colocou operacionais na sua empresa para aprenderem com os seus métodos. Uma leitura actual e aliciante que nos dá a conhecer os meandros do universo da bolsa nova-iorquina."

Para um livro que não está com rodeios, nem paninhos quentes, uma palavra apenas: Potente (com P maiúsculo mesmo).

De uma autobiografia, não estava à espera de um relato tão directo e bem humorado... Não há desculpas, nem vitimizações, há apenas o relato da vida louca, surreal, absurda, de um homem que passou por uma (longa) fase de megalomania e de excessos que resultaram numa história que quase podia ser ficção, mas não é. É absurdamente real.

Apesar de ser uma história forte, os comentários e a perspectiva bem-humorada do autor prenderam-me logo. E, surpreendentemente, em vez de me sentir chocada com a linguagem e/ou acontecimentos, acima de tudo senti-me envolvida e divertida.

Tive de me relembrar várias vezes que se tratava de uma história real, contada e vivida pelo autor, por muito distante que essa
realidade me pudesse parecer. E, convenhamos, depois de tanta tropelia, aventura e desventura, Jordan Belfort nasceu mesmo com o traseiro virado para a Lua... Sobreviver àquilo tudo, manter a sanidade, mental e física e ainda ser capaz de escrever sobre isso desta forma... Genial!

Não encontro palavras para uma descrição melhor do que a do "Sunday Times": Uma espécie de cruzamento entre a "Fogueira das Vaidades", de Tom Wolfe, e "Tudo Bons Rapazes", de Scorsese. Extremamente divertido." E a realidade por vezes ultrapassa mesmo a ficção.

Segundo consta, esta autobiografia será brevemente adaptada ao cinema com Ridley Scott na realização e Leonardo DiCaprio no principal papel... Não me surpreende que além de uma grande êxito de bilheteira, venha de lá Oscar para DiCaprio, mas isso já sou eu a fazer futurismo. Contudo, DiCaprio tem na vida de Jordan Belfort material de sobra para fazer a representação da sua vida.

Venha o filme... Quanto ao livro merece mesmo o estatuto de best-seller e eu diria mesmo best-read, pois foram umas excelentes horas de leitura, absurdamente sur(reais)!

Um Eremita nos Himalaias, Paul Brunton

20 agosto 2010

Editora: Presença
Páginas: 252
Categoria: Memórias, Viagens

"Um Eremita nos Himalaias é um clássico do género de fusão entre literatura de viagens e ensinamento espiritual. Ao longo das suas páginas viajamos com Brunton pelo majestoso cenário dos Himalaias Centrais, conhecemos a poesia da paisagem e temos acesso directo às lições de sabedoria que o autor recebeu de grandes sábios indianos, ao seu processo de meditação e às suas reflexões sobre temas de grande actualidade e importância no momento que o mundo ocidental atravessa. É uma obra inspiradora que nos ajuda a encontrar «oásis de serenidade num mundo tumultuado»."

Se tivesse de descrever este livro numa só palavra, diria que é intemporal, apesar de ter sido escrito em 1937. Trata-se, acima de tudo, do relato de uma viagem pelos Himalaias, das vivências que essa viagem suscitou, dos encontros, dos ensinamentos, das reflexões, do que fica depois de uma experiência única para o autor e para o leitor, que o acompanha, página a página, até ao regresso ao mundo tumultuoso. Paul Brunton está ali, a descrever-nos cada etapa, que, inevitavelmente, resulta em aprendizagem/crescimento interior.

Ao contrário do que pensava, não se trata de um livro centrado apenas na parte espiritual. É um relato de viagem e, como todas as grandes viagens, esta também é constituída por momentos puramente práticos e outros de profunda reflexão. Dada a dimensão do percurso, da majestosidade da paisagem e da riqueza cultural, é natural que esta viagem tenha moldado irremediavelmente o autor e deixado marcas indeléveis, conduzindo a uma imensa vontade de partilhar tudo o que viveu.

A colecção Vidas d'Escritas, da Presença, tem-me trazido boas surpresas e esta foi mais uma. Este é mais um daqueles livros que se adapta a cada leitor que decidir percorrer as suas páginas... Cada um fará a viagem para a qual se predispuser, seja ela a física ou a espiritual.

O autor encontrou o silêncio, a quietude, a sua Verdade nos Himalaias e suspeito que muitos leitores encontrarão a serenidade ou, pelo menos, algum conforto, nas páginas escritas por este "andarilho sem lar nem casa". Tal como ele diz, escreveu-as "(...) na esperança de que o poder das palavras possa dar alguma ideia do Poder sem Palavras que foi e é para mim a suprema atmosfera dos Himalaias".

Quanto a mim, leitora e apenas viajante através da palavra escrita, missão cumprida... Por momentos, também eu estive lá, no alto, no silêncio, onde o tempo pára e a Natureza comanda, onde os dias ventosos e cinzentos dão lugar a interlúdios ainda mais apreciados e esperançosos. Uma metáfora para o resto do mundo? Talvez... só depende dos olhos (e da mente) do leitor. Quanto ao autor, deixa muito claro: "Agarremo-nos à Esperança, quando outras coisas não se mostrarem dignas de serem agarradas. (...) Os Himalaias assim me ensinaram."

Apanhado pela Tempestade, Norman Ollestad

15 março 2010

Editora: Presença
Páginas: 272
Categoria: Memórias/Testemunhos

"Numa manhã de Fevereiro de 1979, contava Norman Ollestad apenas onze anos, o pequeno avião onde seguia com o pai, a namorada deste e o piloto a caminho de uma cerimónia de entrega de um prémio de esqui colidiu contra as montanhas San Bernardino no meio de um intenso nevoeiro. O seu pai e o piloto tiveram morte imediata, e Sandra, a namorada do pai, estava ferida, pelo que só dependia de Norman encontrar forma de serem socorridos. Norman desceu 2607 metros, sem equipamento nem auxílio, exposto à neve, ao gelo, ao vento e à neblina traiçoeira, guiado apenas pelas memórias da sua infância. Um relato emocionante de um sobrevivente que é também uma história sobre uma relação inspiradora e tensa entre pai e filho."

Numa fase de cansaço psicológico em que não me consigo concentrar na maior parte das leituras, o melhor elogio que posso fazer a este livro é que me prendeu, coisa que ultimamente tem sido rara.

Este é um relato verídico comovente, mas não lamechas, sendo acima de tudo uma história envolvente e muito bem transmitida para o papel. Sabemos desde o início que se trata de uma história trágica, mas, curiosamente (ou não), senti que este livro transmite uma mensagem de esperança e vários momentos ao longo do relato de Norman chegaram mesmo a despertar-me sorrisos.

É um relato sincero e aberto da relação singular e por vezes difícil entre pai e filho. O relato do acidente e do que se lhe segue é intercalado ao longo de grande parte do livro com capítulos sobre o passado, em que o autor nos relata vários episódios (e aventuras) vividos com o pai, mostrando-nos o que o foi moldando até àquele fatídico dia, em que teve mesmo de pôr em prática o que, relutantemente, aprendera, para garantir a própria sobrevivência.

Mesmo para quem, como eu, pouco percebe de esqui ou surf, é um livro que nos transporta para o meio da neve ou para a crista das ondas, conforme as aventuras radicais para onde o pai arrasta o filho, obrigando-o a ultrapassar medos, preguiças e hesitações. Além disso, o facto de conter fotos de Norman e do pai nalgumas das situações descritas, faz-nos mergulhar mais atentamente na história e senti-la mais real.

É uma bela e envolvente história de sobrevivência, aprendizagem, esperança e aceitação. Um relato que nos mostra como a vida e as pessoas que nos são mais próximas nos vão moldando, mesmo que não nos apercebamos disso. Fechei este livro com um sorriso nos lábios e uma lágrima ao canto do olho, com a nítida sensação de ter aprendido uma lição valiosa.

"(...) o meu pai condicionou-me para me sentir à vontade na tempestade.
Isto não quer dizer de modo algum que eu passe intempestivamente pela vida. Tropeço e arrasto-me através da vida como a maior parte de nós. Com os meus instrumentos grosseiros e capacidades imperfeitas, atravesso o caos com a esperança que encontrarei um pouco de beleza no meio dele."
pág. 265

O Quarto de Hóspedes, Helen Garner

01 novembro 2009

Editora: Oceanos
Páginas: 160
Categoria: Memórias/Testemunhos

"Na sua casa de Melbourne, Helen prepara carinhosamente o quarto de hóspedes para a sua amiga Nicola, que vem visitá-la durante três semanas para se sujeitar a tratamentos de medicina alternativa que, acredita, a vão curar do cancro de que sofre.
A partir do momento em que a aristocrática Nicola sai do avião, magríssima e com a voz rouca, mas ainda assim em grande estilo, Helen passa a ser a sua enfermeira, mudando-lhe os lençóis vezes sem conta, dando-lhe de comer e de beber e acompanhando-a ao duvidoso Instituto Theodore para os estranhos tratamentos a que Nicola, confiantemente, se submete.
"O Quarto de Hóspedes" narra uma história de amizade, esperança e revolta. Comovente sem nunca ser piegas, por vezes com grandes rasgos de humor, é também o retrato de uma geração de mulheres que nos anos 70 do século XX, se julgaram para sempre jovens, belas e imortais e se vêem agora confrontadas com os seus piores pesadelos."

E muitas vezes, nos livrinhos mais pequeninos, encontramos verdadeiros tesouros. É o caso deste livro, um empréstimo em que decidi pegar por impulso, uma noite destas.

Começo por referir a capa, que acho linda, e o marcador, muito original, para pendurar na porta do quarto: "Favor não incomodar, estou a ler."

Um livro belo esteticamente, mas também no conteúdo. Com uma escrita límpida e clara é abordado um tema pesado, o cancro, mas acima de tudo, a história centra-se nas raízes profundas da amizade, quando a vida se complica, as rotinas se alteram e nos é exigido mais do que alguma vez pensaríamos estar dispostos a dar.

Logo nas primeiras páginas comecei a sorrir com os preparativos de Helen para tornar o quarto de hóspedes o mais acolhedor possível, de tantas vezes me vi na mesma situação que ela, a preparar o quartinho o melhor possível para a visita que lá vinha. Mas, neste caso, a visita vem com o peso de uma doença incurável em estado avançado e partilhará com Helen momentos intensos e dramáticos que aos olhos de Helen se acabam por revelar tragicómicos.

A mestria e o encanto deste livrinho está na sua escrita límpida, no facto de sair do politicamente correcto e de ser terrivelmente sincero, mesmo quando a verdade dói. É assim Helen, a voz que nos conta esta história tão singularmente comovente.
Mais um excelente livrinho que recomendo!

Querida Comprei um Zoo, Benjamin Mee

17 setembro 2009

Editora: Casa das Letras
Páginas: 272
Categoria: Memórias, Testemunhos

"A espantosa história verídica de um zoo arruinado e dos duzentos animais que mudaram uma família para sempre.

Em Outubro de 2006, Benjamin Mee, com a sua mulher, Katherine, e os dois filhos pequenos, a mãe de Ben, com setenta seis anos, e o irmão venderam tudo e mudaram-se para um jardim zoológico degradado nos limites de Dartmoor. Assumindo a responsabilidade por uma colecção incluindo leões africanos, tigres siberianos e ursos-pardos europeus, juntamente com as responsabilidades igualmente avassaladoras da gestão do pessoal e das finanças do parque, iniciam juntos o percurso de uma vida de desafios novos e recompensas inesperadas.

Perseguir um jaguar foragido, exercer diplomacia entre facções desavindas de macacos-verdes, recuperar um lobo em fuga e assegurar uma hipoteca de meio milhão de libras são apenas algumas das exigentes tarefas a concretizar.

No meio de tudo, a família é atingida pela tragédia: Katherine, depois de sobreviver a um tumor cerebral, recomeça a sentir os sintomas da sua doença. Cuidar da sua mulher torna-se outra tarefa a acrescentar às complexidades quotidianas da gestão de um jardim zoológico e da preparação da sua inauguração.

Querido, Comprei um Zoo
é uma história comovente e animadora que relata os esforços da família para reconstruir o parque, em simultâneo com o declínio de Katherine, bem como os seus últimos dias e a forma como a família conseguiu seguir em frente."

E esta sinopse diz quase tudo sobre este livro. Um relato comovente e ao mesmo tempo divertido de uma história de vida diferente, mas real, tanto atingida pela tragédia, como levada pelos sonhos das novas possibilidades.

Temos então, mais uma história real contada por um jornalista de uma forma cativante. Com ele, acompanhamos os problemas de saúde da mulher, as complicações e atribulações com o zoo e, no fundo, a vida daquela família cujo percurso é singular, por vezes doloroso, outras vezes esperançoso, mas sempre cheio de amor e humor.

Uma boa leitura para quem gosta de animais, mas também para quem gosta de testemunhos reais, onde o sofrimento e o esforço são contrabalançados por uma perspectiva optimista e bem-humorada.

O Longo Caminho de Olga, Yolanda Scheuber

29 agosto 2009

Editora: Série B
Páginas: 248
Categoria: Memórias/Testemunhos

"Desde as terras campestres da Rússia até à inóspita pampa argentina povoada de índios, uma menina de doze anos, abandonada pelos pais, deverá empreender a sua missão mais importante: viver.

A extraordinária vida de Olga começa na faustosa Rússia dos últimos czares Romanov, quando, com somente doze anos, a sua família decide abandonar o seu país, deixando para trás tudo o que tinha, inclusivamente uma das suas irmãs. Começa então uma grande viagem que os levará a Inglaterra e Canadá, antes de chegarem à longínqua e desconhecida Argentina, onde a família se separará definitivamente.
Ali, a pequena Olga começará uma nova vida plena de dificuldades, que enfrentará da melhor maneira possível. Terá de ultrapassar novas separações e notícias infelizes, duas guerras mundiais que a atingirão profundamente, mas também conhecerá o amor e iniciará a sua própria família, reencontrará pessoas que julgara desaparecidas e trabalhará nas suas próprias terras na pampa argentina."

Yolanda Scheuber conta-nos, num relato humano, rico e nostálgico o longo caminho percorrido pela sua avó Olga, tanto física como psicologicamente, desde 1889 a 1982.

A história começa a ser-nos relatada na 1ª pessoa, pela própria Olga, que em conversas com a neta aos domingos lhe vai revelando, no fundo, a longa e dura história da família, que se começou a desmembrar com a partida da Rússia imperial e que apenas parou quando já havia elementos da família na Alemanha, Canadá, Estados Unidos e na Argentina, onde Olga e uma das suas irmãs ficaram.

Ao acompanharmos o relato desta longa e atribulada vida, acompanhamos também os acontecimentos que marcaram os anos mais complicados do século XX e que, tal como no resto do mundo, deixaram a sua marca indelével em Olga, que tinha o coração dividido por todas as partes do mundo onde tinha a família que tanto amava.

No entanto, e apesar de todo o sofrimento, a vida de Olga torna-se afinal um exemplo de fé, de luta e de coragem. São comoventes os relatos das (demoradas) chegadas das cartas com notícias dos familiares. E torna-se impressionante, como no meio de tanta convulsão económica e social, conseguiram sempre manter um contacto mais ou menos regular. Mesmo quando já todos tinham "assentado" e dado origem às suas próprias famílias.

Olga teve uma vida sofrida, desenraizada, mas nunca deixou de sonhar e acima de tudo de acreditar. Gostei particularmente desta passagem:

"Sentia que a minha alma ia onde iam os que eu amava e então compreendi que o tempo e a distância eram somente valores impostos pela própria humanidade e que, ignorando-os, me era permitido ser livre e transladar a minha mente e alma para o lugar que eu propusesse sem que nada nem ninguém mo impedisse." (p.145)

Achei o livro um pouco mais denso do que a sinopse revela, mas é não só riquíssimo em vivências e reflexões sobre os anos mais conturbados do século XX, como também sobre a vida em si.

"Quando nascemos, ninguém nos dá a receita da felicidade. Há milhões de receitas de comidas, de sobremesas, de perfumes, de medicamentos, mas quanto à felicidade, não existe nem existirá nunca uma fórmula mágica que, aplicada a todos por igual, nos dê um resultado exacto. (...)
A felicidade não é uma paragem à qual temos de chegar, uma meta, um horizonte. A felicidade é uma forma de estar na vida. Se a perseguirmos, parece que nunca mais a alcançamos, é como a nossa própria sombra que foge quando vamos atrás dela, mas quando chega, chega sem nos apercebermos e quando menos a esperamos. " (p. 218)

Trata-se de uma história verdadeiramente real e humana, de separação, superação e muita determinação. Uma história singular de vida que, de facto, merecia ser contada e que valeu muito a pena ler.

Fui Roubada aos Meus Pais, Cèline Giraud

09 agosto 2009

Editora: Presença
Páginas: 184
Categoria: Memórias/Testemunhos

"A vida de Céline Giraud, 27 anos, desabou a 22 de Fevereiro de 2004, o dia em que tomou conhecimento de que não tinha sido abandonada em criança mas roubada à sua mãe biológica com alguns dias de vida. Roubada para ser vendida por 3000 dólares a um casal francês que desconhecia o processo de tráfico de que Céline tinha sido alvo.
Só quando tentou contactar a mãe biológica conseguiu descobrir a verdade, procurando a partir deste momento, com a ajuda dos pais de Fernando, o seu namorado, pistas para o seu rapto, conseguindo localizar mais de vinte crianças também de origem peruana que tinham sido raptadas. Os seus pais adoptivos, alheios à ilegalidade, tinham contactado uma organização francesa que lhes tinha conseguido uma menina com apenas duas semanas em tempo recorde.
Quando se apercebeu da situação dos outros bebés, Céline tentou contactar as suas famílias criando a Associação La Voix des Adoptés, que procura dar apoio a crianças adoptadas.
Um livro de memórias, escrito na primeira pessoa com um tom quase detectivesco, informativo e que pode servir de base a uma análise social."

Uma história contada na primeira pessoa por quem a viveu, mas acima de tudo, por quem a sofreu.

Achei a escrita de tal forma aberta e sincera, que nos faz ficar ainda mais chocados com a infeliz realidade do tráfico de crianças que grassa pelo mundo todo, ainda mais nos países desfavorecidos. Regra geral, só nos apercebemos de casos deste género pelas notícias. Mas raros são os casos que chegam ao olhar público e não é uma notícia de dois ou três minutos que nos consegue mostrar a verdadeira crueldade contra as crianças e famílias, incluindo as famílias adoptantes.

Este livro é um relato corajoso de uma jovem cuja vida ficou de pernas para o ar quando decidiu procurar as suas origens. A nós, leitores, serve como alerta e como exemplo de força e coragem.

"(...) Foi necessário ultrapassar a raiva, a cólera e o desejo de vingança. Foi necessário digerir a verdade, domá-la, para que ela se transformasse na minha história. (...)
Hoje sinto-me na obrigação de testemunhar. As palavras "tráfico de crianças" não são uma invenção dos jornalistas. Os raptos de crianças existiram e ainda existem no mundo da adopção. (...) Este livro foi escrito para que nunca mais se diga que não se sabia de nada.
Quero também partilhar esta minha experiência com as crianças adoptadas em condições normais. Quero dizer-lhes que não há quem saía incólume de uma busca das suas origens. Ninguém está suficientemente preparado para descobrir o seu passado, seja ele qual for. (...)"

A autora foi uma das fundadoras e é presidente de uma associação de adoptados, La Voix des Adoptés, que, pelo que o livro dá a entender, proporciona um precioso apoio a adoptados e pais adoptivos e tem um papel preponderante na denúncia de organizações de tráfico de crianças.

Numa nota mais pessoal, não sou mãe, não sou adoptada, mas este sempre foi um tema que me atraiu particularmente... Por isso, é um livro que recomendo a todos, mas, acima de tudo, a quem um dia pretende adoptar. Para ler e reflectir.

Querido Ollie, Stephen Foster

25 abril 2009

Editora: Caderno
Páginas: 128
Categoria: Memórias


"Um cão difícil. Um dono persistente. Uma história de amor.Stephen Foster gosta de estar em casa e tem hábitos e rituais de que não abdica. Ou melhor, de que não quer abdicar… Porque a partir do momento em que recolhe Ollie num canil, a sua vida muda para sempre. O pequeno lurcher que agora deambula pelos corredores não corresponde a nenhum padrão conhecido. Aos poucos Stephen começa a perceber que Ollie, tal como qualquer ser humano, é único e incomparável. E, à semelhança de qualquer ser humano, tem de ser conquistado… A luta do autor para ganhar o amor e o respeito de Ollie, e torná-lo um verdadeiro animal doméstico, a par com as novas rotinas a que de repente se vê obrigado, é um divertido e comovente tributo a todos aqueles que amam os seus animais."

Depois de um livro sobre donos e cão e consequentes atribulações como "Marley e Eu", cuja leitura tanto me levava à gargalhada como às lágrimas, era quase inevitável que este livrinho me soubesse a pouco, muito pouco...

É uma leitura agradável para quem gosta de cães, com alguns momentos divertidos, sim, mas acho que a sua mais-valia são as mensagens que transmite, principalmente a nível da adopção animal (consciente e responsável) e ao facto de cada cão ser realmente único, com as suas próprias "taras e manias"... enfim, com a sua personalidade.

Acima de tudo, por muito atribulada que possa ser a coexistência ente cão e dono, acaba sempre por se tornar uma história de dedicação e amor.

Troca de Identidades, famílias Van Ryn e Cerak com Mark Tabb

03 abril 2009

Editora: Quinta Essência
Páginas: 230
Categoria:
Memórias

"Duas famílias, uma única sobrevivente, o fim e o renascer da esperança.

Laura Van Ryn e Whitney Cerak, duas jovens universitárias, foram vítimas de um trágico acidente de viação. Uma foi sepultada sob o nome errado, a outra ficou em estado de coma e a ser tratada por uma família que não era a sua. Troca de Identidades é uma história sem precedentes de duas famílias traumatizadas , que, ao descreverem a bizarra provação a que foram sujeitas, descobrem o laço que as une enquanto enfrentam a reviravolta de uma vida perdida e de uma vida redescoberta. Enquanto as famílias tentam lidar da melhor forma com a chocante revelação, Whitney Cerak, a única sobrevivente, luta por um novo começo. Troca de Identidades tece uma envolvente narrativa de perda, esperança, fé e amor perante uma das mais estranhas ironias do destino que se possa imaginar e celebra as dádivas e os mistérios insondáveis da vida."

Soube pela primeira vez desta história por acaso, enquanto estava a fazer "zapping" e parei no programa da Oprah Winfrey. Fiquei agarrada e comovida pelo relato daquelas duas famílias que tiveram de enfrentar uma tragédia familiar, mas com a mesma admirável fé.

Ao ler este livro ainda mais impressionada fiquei com a fé e a união destas duas famílias, primeiro individualmente, a tentarem lidar, os Van Ryn, com a dolorosa e lenta recuperação de "Laura", e os Cerak, com a perda de Whitney de forma tão trágica, e depois juntos na alegria de uns que era a tristeza de outros, mas que resultou numa fé reforçada.

Há muitas passagens comoventes e acompanhamos a dor interior e exterior e os "diálogos" com Deus destes pais e irmãs, irmãos, namorados e amigos. Mas não é um livro que nos faz chorar de fio a pavio, antes pelo contrário, leva-nos a ter esperança e a aspirar ter tamanha clareza de espírito e fé em tantas outras situações tão "menores" da nossa vida.

Achei comovente como as duas famílias reagiram e assimilaram a realidade dos factos finais. Achei admirável o comportamento da irmã de Laura Van Ryn, Lisa. Comoventes também as cartas de Aryn à sua quase noiva Laura. Comovente o reencontro de Whitney com Hunter (o pormenor de chamar Hunter a Aryn é tocante, o amor assume tantas formas... quem ler perceberá porquê).

É uma história trágica, real, mas acima de tudo de perdão, fé, aceitação, união e muito, muito amor e esperança.

Gostei particularmente do último capítulo em que é a própria Whitney que se dirige ao leitor com uma clareza de espírito duramente conquistada e que deixa transparecer a luta que teve e terá de enfrentar para lidar com as sequelas físicas e emocionais de ter sobrevivido ao acidente e da consequente troca de identidades.


"...leu-me uma passagem do Antigo Testamento, Primeiro Livro dos Reis. (...) Elias vai para o deserto para falar com Deus. Está à Sua espera quando ouve uma tempestade de vento gigantesca que é tão forte que arranca os rochedos. Mas Deus não está na tempestade de vento. Depois há um terramoto, mas Deus não está no terramoto. A seguir, há um incêndio, mas Deus não está no incêndio. Por fim, ouve um suave murmúrio e percebe que é Deus. (...) Percebi que em vez de pensar que a minha vida tinha de ser uma enorme tempestade de vento ou um terramoto, para Deus, talvez tivesse apenas de O deixar murmurar suavemente na minha vida. Essa passagem fez-me perceber que não tenho de realizar nada de gigantesco. (...) Demorou algum tempo, mas finalmente percebi que o propósito de Deus para mim é deixá-Lo fazer o que quiser da minha vida, modesto ou grandioso."
O blog de que fala o livro, dedicado pela família a Laura Van Ryn, pelo que percebi foi encerrado...

Comer, Orar, Amar, Elizabeth Gilbert

11 março 2009

Editora: Bertrand  
Páginas: 376  
Categoria: Memórias http://comeroraramar.blogspot.com/

"Aos trinta anos, Elizabeth Gilbert tinha um marido, uma casa de campo, uma carreira de sucesso - tudo aquilo que uma mulher pode desejar. Ou talvez não... Consumida pela dúvida e pela inquietude, decide avançar para um divórcio difícil, sofrendo durante o processo uma depressão profunda e uma arrasadora crise existencial. É então que se decide pela aventura. Dividida entre o desejo de prazeres mundanos e a aspiração a uma transcendência divina, experimenta as delícias da "dolce vita" em Itália, o rigor ascético na Índia e no seu último destino - a Indonésia - procura o equilíbrio e encontra o amor."
Um livro que me despertou a curiosidade pelo imenso êxito que teve quando foi lançado por cá. Inicialmente, pensei que se tratasse de mais um livro de auto-ajuda, mas depois fui ouvindo, aqui e ali, algumas opiniões e afinal não era bem o que pensava. Mesmo assim, confesso que comecei a lê-lo apenas para tirar teimas e a pensar que seria para ler "na diagonal". Enganei-me, a escrita despretensiosa, divertida e de coração aberto, cativou-me... Ao fim de umas páginas já tinha oscilado entre a lágrima ao canto do olho e a gargalhada e ficado com uma vontade imensa de (re)aprender italiano. Quem pensa que é um livro de auto-ajuda, desengane-se. É isso sim um livro de partilha de vivências e das (revira)voltas que a vida dá. Um livro de aventuras e desventuras de alguém que tenta encontrar-se, "perdendo-se" pelos, neste caso, três cantos do mundo (Itália, Índia e Indonésia).
 
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