Quando faleceu, a 2 de fevereiro de 2010, Rosa Lobato de Faria deixou inacabado este Vento Suão. Pôs-se então a hipótese de pedir a um(a) autor(a) das suas relações que imaginasse um desenvolvimento para a história que a morte não deixara chegar ao fim e terminasse o livro inacabado. Depressa se concluiu, no entanto, que tal não era a melhor solução - primeiro, porque não se tinha a certeza de que a autora aprovasse essa inclusão de uma voz alheia no interior do seu próprio fluir narrativo; depois, porque, apesar de inacabado, o romance tinha o desenvolvimento suficiente para se deixar ler como um todo com sentido.Primeiro que tudo, impõe-se dar os parabéns à editora pela honestidade, coragem e homenagem à obra desta autora quando optou por publicar este "Vento Suão" tal como Rosa Lobato de Faria o deixou.
Aqui fica, pois, este Vento Suão tal e qual como Rosa Lobato de Faria o deixou. E como derradeira homenagem a uma escritora cuja obra teve como eixos fundamentais "a força da vida, o conhecimento profundo da realidade e do meio em que se agitam os seus fantoches ficcionais, o domínio das minúcias, o fôlego narrativo, a irrupção imparável de um vento negro de violência que impõe uma aura de tragédia intemporal ao que parece quase inócuo."
Eugénio Lisboa
Na minha modesta opinião, esta escritora tem uma escrita tão característica onde a sua voz flui tão naturalmente, que se notaria a intrusão de qualquer outra pessoa, mesmo com as melhores intenções.
Obviamente, nota-se que é uma obra inacabada, que provavelmente a autora faria ajustes aqui e acolá, mas isso não retira mérito nem à história nem à escrita. É até muito interessante ver como a história foi fluindo da mente de Rosa Lobato de Faria diretamente para o papel.
No final, é inevitável sentir alguma tristeza e/ou frustração por não ser possível sabermos como a autora concluiria a história e qual seria o destino final das personagens, mas isso revela-se também um bom exercício para a criatividade dos leitores... quem conhece a sua escrita dará por si a fechar o livro e a dedicar alguns momentos a imaginar "as cenas dos próximos capítulos".
A morte intrometeu-se e levou Rosa Lobato de Faria a 2 de fevereiro de 2010, mas cada vez que leio uma das suas obras sinto que a sua voz perdura na forma natural e sincera como ela usava a palavra escrita para contar as suas histórias. O final deste livro ficou em aberto, mas a voz da autora perdura na mente de cada leitor que fechar esta obra e se deixar levar nas asas da imaginação pelas reticências finais.
2 comentários:
Olá,
Gostei muito de ler o teu comentário :) Percebe-se bem que este foi mais um dos excelentes livros da autora.
Fiquei apenas curiosa em saber do que é que, concretamente, o livro aborda :P
Beijinhos e continuação de boas leituras**
Olá, Mira
Pois é, que nas minhas opiniões fujo muito a descrever as histórias, porque acho que isso afeta e pode condicionar a experiência de leitura das outras pessoas. Dou mesmo só a minha opinião e não me alargo sobre as histórias ;)
Neste caso, posso adiantar que as personagens principais são duas mulheres que foram amigas de infância e que se reencontram uns bons anos depois, tendo passado por várias experiências menos boas ao longo desses anos, como traições, violência doméstica e relações familiares e amorosas complicadas.
Beijinho e boas leituras!
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